O Sopro

sopra da maçã

do meu rosto

o teu vão esboço

aroma terçã

num chão

disperso

de terra nua 

do teu jardim

carmim

eu me despeço

sem jura

(Cris de Souza)

Lenda viva

(clara nunes, o mar serenou)


venta a vontade
de vibrar barco
velejar em arco
íris do mar

ou serenar areia
como sereia cantar


 (Cris de Souza)

Olha...

 (arquivo pessoal)

tenho fé na face
que reflete o fundo
-espelho d'água-
cor de certo descuido,
obra de algum deus mudo
que se vingou errante
nesses meus falantes
olhos verdes quase musgos


(Cris de Souza)

Alusão

 (pesare)

na outra
margem do luar 

o amor se alarga

leva-me

entre as estrelas

que estreitam

a memória

dessas palavras

(Cris de Souza)

Um tango e tanto...

(el cholulo)


enquanto
inocente
dormes

nas cochas
da minha
insônia

a noite
desperta
um tango

no passo
que só
te chamas


(Cris de Souza)

Alucinação

(rabi khan)

fonte 

de mil bocas,
face louca:
virgem de gozo

(Cris de Souza)

Lábia

toda  prosa
tece a rosa
na selva
do sentir

mel somente
pro beija-flor
traduzir


(Cris de Souza)

Entrelinhas

(andorinhas na primavera, aquarela chinesa)

ah, todo azul

do céu 

vale a pena

em cena 

um cordel

de andorinhas

descortina

o branco

das entrelinhas 

(Cris de Souza)

Florescência

(luiza maciel nogueira)

se passarinho

comigo for

faço da flor

o seu ninho

(Cris de Souza)

Hoje...

estou no trem da lira, para ler clique aqui.

agradeço a presença e um grande abraço a todos amigos!

Prisma

(arquivo pessoal)

comporto
cores  tortas

o contraste
temerário

é meu tom
primário

(Cris de Souza)

Noite de Epifanias

(julio pêgo)

numa noite

de epifanias

dois pirilampos

em asas francas

sopram flâmulas

sobre o espanto

pra azular as chamas

(Cris de Souza)

Observação

(arquivo pessoal)

meu grito

servo

não sinta

a sério

vibro

no império

do silêncio

estéreo

(Cris de Souza)

Reflexo

(picasso)

abre dor
no espelho

escrevo
com sede:

se a boca
espumar

não sirva
as paredes

(Cris de Souza)

Peça

(marcantonio)

assino

em branco

o papel

de louca

contraceno

com a sombra

(Cris de Souza)

Lírica

(janis joplin, maybe)

a lírica
dispara

feito blues

na madrugada

violando
a alvorada

(Cris de Souza)

Caixa de Pandora

 (jonh william waterhouse, pandora/1896)

na caixa curiosa    

guardava a esperança     

da boca pra fora

chamavam-lhe pandora

(Cris de Souza)

Vide o verso

(arquivo pessoal)

por trás

do verso

de menina

envelheço

entre a rima

clara mente

(Cris de Souza)

Nata

(portinari)

a ausência

é mancha

de nascença

(Cris de Souza)

" Do jeito que o diabo gosta "

no topo  

da cegueira

sagrada       

soprava

toda brasa

sem nenhuma

cerimônia

(Cris de Souza)

Palavra de honra

sobre a cartilha:

a palavra  

é armadilha

(Cris de Souza)

" Os opostos se distraem "

enquanto

ele assiste

ao jornal

tenso

ela ouve gal

com as mãos

no lenço

(Cris de Souza)

 

Efusão

(anthony van dyck, eros e psiquê /1639-40)

em éter

o elã

de eros

(Cris de Souza)

Anúncio

troco a corda do idílio

por um trocadilho

em tempo real   

(Cris de Souza)

Criação

no campo

da crisálida

a crise

cria asas

(Cris de Souza)

Contra-indicação

trago a deixa

dose extra

tarja preta

tanta queixa

sem fórmula

de suspender 

(Cris de Souza)

Desculpados

(lorenzo lotto, vénus e cupido/1525)

os cupidos

são esculpidos

à mão de vénus

(Cris de Souza)

Sem conto

cai a tarde

na toada

nada

sublimar

sob o mar:

o molusco

toca a trilha

no crepúsculo

da ilha

(Cris de Souza)

Nota

todo abismo

tem um ponto pétreo
de observação

(Cris de Souza)

Palato

(jonga)

pinto

tua pele

de pêssego

nos meus

próprios

pêlos

(Cris de Souza)

Grave

gravam corvos

no corpo noturno

de mármore

(Cris de Souza)

Lua Cheia

(foto do franco)

lua prata

cheia serenata

do sonhar

(Cris de Souza)

Esperança

 (Ian Davie)

todos

os verdes

do vale

numa
só árvore

das aves

(Cris de Souza)

Plástica

(Monet)

plantou

os pés

na primavera

pra pendurar

as pedras

(Cris de Souza)

Previsão

 

(Pesare)

tempo

de ser-te

 o centro

benigno

e toda

a órbita

do teu

signo

(Cris de Souza)

Registro

quero
a quebra
do silêncio

desde
a queda
do lenço

(Cris de Souza)

Válvula de Escape

 (Claudia Barbisan, a fuga)

retiro 

a válvula

na unha

o escape

é minha

testemunha

(Cris de Souza)

Suspeita

a sina 
se assina
assassina


(Cris de Souza)

Místico

(Salvador Dali)

a lonjura do bosque

se aproxima ao galope

do pégasus

(Cris de Souza)

Mirante

(Salvador Dali)

na caravela

do teu olhar

eu miro o mar

aberto

(Cris de Souza)

Perdição

só me acho

em lugar

nenhum

(Cris de Souza)

Menção Maior

a marca

é máxima

da máscara

                     

(Cris de Souza)

O Bruxo de Botas

(para Domingos Barroso)

no alto andar
as coisas tocam
o calcanhar


(Cris de Souza)

Versão Vazada

a vespa

é véspera

da verdade

(Cris de Souza)

De claro

(Duy Huynh)

no meu

verso oculto
é tua voz
que escuto

(Cris de Souza)

Eco

depois do grito
nada sobrou
mudo

(Cris de Souza)

Prelúdio ao Sonho

silêncios d' água
afogam
boca a boca

(Cris de Souza)

Da alusão

(Amanda Cass)

nuvem na horta
chove grilo
atrás da porta


(Cris de Souza)

Toque de Recolhimento

(arquivo impessoal)

se caramujo:

fujo

(Cris de Souza)